A Gestão do Conhecimento como interface entre as tecnologias e o negócio

O desenvolvimento de software de gestão no mercado nacional tem sido caracterizado, ao longo dos últimos 25 anos, por dois aspectos, os quais hoje em dia assumem alguma relevância: por um lado, a pouca proliferação de grandes aplicações “ERP” nacionais – mercado (essencialmente grandes empresas) que tem sido dominado pelos grandes “players” internacionais, tais como a SAP, Oracle, BAAN e outros na sua maioria indexados a grandes construtores de Hardware, e  por outro, pelo domínio de soluções, ditas horizontais, que ciclicamente se tem afirmado no mercado das PME´s.

 Neste segmento, na década de oitenta, assistiu-se a uma ruptura tecnológica com a afirmação do conceito de “Gestão Comercial” e empresas que até então se assumiam como líderes de mercado (Infologia – a norte e Turbogeste – da Inforgal a sul) desapareceram do mercado.

 O espaço deixado foi rapidamente ocupado pela Primavera Software a norte e pela PHC a sul, cujas estratégias se tem focalizado nos últimos anos, numa lógica de soluções ERP, na tentativa de assumirem um determinado alinhamento com os tais grandes “players” internacionais. No entanto, nos finais da década de noventa, com a afirmação do conceito Balanced Scorecard e a sua rápida adopção pela indústria em termos mundiais, surge nova ruptura tecnológica, prevendo-se num futuro próximo, deste modo, fortes mudanças na estrutura deste sector de mercado em termos nacionais. Estas empresas não alinharam recursos nem desenvolveram competências para responder a estes novos paradigmas.

Quanto ao segmento das grandes multinacionais, o panorama não é muito diferente: questões como a dificuldade em implementar políticas de downsizing, rigidez funcional, complexidades processuais, barreiras culturais etc, têm sido identificadas como fortes barreiras á mudança. Sendo assim, estamos a assistir novamente a um certo desfasamento entre a oferta existente e as tendências do mercado. As razões fundamentais parecem ser consequência de:

  • Para os dois tipos de produtos/serviços, passou a existir nos últimos anos uma maior focalização nos segmentos das grandes empresas, mais fáceis de interessar e com potencial de retorno mais rápido, pois a carência de tecnologia de gestão e também de processos técnicos era mais evidente em sectores como o financeiro, indústria e grande comércio (automação da gestão) e telecomunicações e processos fabris e de logística (automação de processos técnicos) – Exemplos na área técnica são a Philips e a Siemens com a sua grande concentração até 10 anos atrás em hardware/software para telecomunicações e grande ênfase actual em equipamentos/softwares médico/hospitalares.

 

  • Por outro lado, as empresas produtoras de aplicações são em grande medida, dirigidas por profissionais da área, principalmente técnicos ou engenheiros, que se focaram mais na automação dos processos técnicos e de gestão baseados na computação após a grande revolução tecnológica que se tornou mais evidente nos últimos 10/15 anos. No fundo, a gestão dos SI/TI não deveria ser entregue a pessoas com uma abordagem exclusivamente tecnológica. Os SI/TI são, cada vez mais uma tecnologia organizacional e, consequentemente, não deveria ser possível deixar este tipo de tecnologia, na organização, ao cuidado de engenheiros de software sem experiência ou formação em Gestão.

 

Assim, o mercado em questão está longe de ser um mercado maduro, está a crescer e a sofisticar-se. Em geral, as competências específicas para gerir a tecnologia existem, mas faltam ainda as competências para gerir os sistemas (i.e. a área de interface entre as tecnologias e o negócio). O alinhamento deve começar pela sua forma mais básica, isto é, pela criação de um clima generalizado de cooperação entre as pessoas da organização. Os SI/TI são um ingrediente importante da gestão de conhecimento. Contudo, não são o ingrediente mais importante. A estratégia é um ingrediente muito mais importante do que os SI/TI porque se não houver um enfoque claro na GC, na estratégia de negócio, não será possível operacionalizar qualquer tipo de acção que tenha a ver com o conhecimento organizacional, de uma forma séria e sustentada ([1]).


[1] Referência a Rodrigo MagalhãesOrganizational Knowledge and Technology – 2005.

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